Há cada vez mais tutores fazendo pedidos a
veterinários para sacrificarem os seus cães e gatos sem justificação clínica, o
que revolta os profissionais e as associações zoófilas.
“Sabemos de muitas pessoas que nunca deveriam ter
tido um animal e que, à menor dificuldade, querem se livrar dele, nem que seja
através da eutanásia, o que é revoltante”, disse à agência Lusa a presidente da
Liga Portuguesa dos Direitos do Animal (LPDA), a propósito do Dia Mundial do
Animal.
“Os pedidos de eutanásia de que vamos tendo
conhecimento são cada vez mais. É revoltante e, principalmente, preocupante”,
disse.
Para Maria do Céu Machado, “não há nada que
justifique a morte de um animal sem motivos clínicos” e é isso mesmo que os
voluntários tentam transmitir aos tutores.
Igual papel desempenham os veterinários, que se
depearam cada vez mais com tais “pedidos incompreensíveis”. Ana Marques, médica
veterinária e diretora da Clínica VetBelas, em Belas, Portugal, disse à Lusa
que desde o verão que tem recebido várias solicitações neste sentido, as quais
recusa “veementemente”.
“O meu papel é salvar vidas e não acabar com elas.
Quando me propõem tal coisa, tento explicar — e ajudar — que há solução clínica
para o caso do animal ou, se o tutor não quer ficar com ele, que pode optar por
dá-lo para adoção”, referiu.
“Chegam-me os casos mais bizarros. Querem, mesmo por
telefone, a garantia de que eu sacrifico o animal, até sem o observar
clinicamente. Quando me recuso, não hesitam em dizer que o vão fazer em outro
lugar”, contou.
Para Ana Marques, não é a crise que justifica um ato
do tipo — eticamente reprovável para estes profissionais –, pois “há muitos
tutores que mal têm dinheiro para comer e, no entanto, são cumpridores e
prestam assistência ao seu animal, mesmo que isso represente ficarem sem uma
refeição ou um medicamento”.
A veterinária conhece bem este tipo de tutores que
“se quer livrar do animal a qualquer custo”: “Eles traem o que sentem e o que
são, além de, normalmente, trazerem um animal que já revela sinais de
negligência”.
Gonçalo da Graça Pereira, médico veterinário e mestre
em etologia clínica e bem-estar animal, disse à Lusa que não tem recebido
muitos pedidos de eutanásia, mas sente cada vez mais o impacto da crise na
bolsa dos tutores.
“Trabalho numa associação zoófila que, por praticar
preços mais baixos, tem cada vez mais procura. São tutores que querem muito
ajudar o seu animal”, disse.
Pereira já se recusou a fazer eutanásia, por
considerar que essa era apenas uma hipótese e não a última alternativa para o
animal em questão.
“A Ordem dos Médicos Veterinários não tem chegado
informação do aumento de pedidos de eutanásia, como disse à Lusa a bastonária
Laurentina Pedrosa.
“Do que sabemos, a eutanásia está a acontecer nas
situações previstas de método clínico quando não existe outra solução clínica
para a saúde do animal”, observou.
A bastonária deixa, contudo, um alerta: “A eutanásia
deve ser praticada em situações extremas e só quando não houver alternativa
clínica”.
Laurentina Pedrosa recorda que o papel do veterinário
não é apenas clínico, mas deve ajudar a encaminhar o animal para outra solução,
sempre que se aperceba de que os tutores não estão em condições de lhe
assegurar bem-estar.
Todos os anos é comemorado no dia 4 de outubro o Dia
Mundial do Animal, com o objetivo de chamar a atenção para as espécies em
extinção, os maus tratos e exploração dos animais, assim como a importância dos
animais para a sociedade.
Fonte: DN
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